quinta-feira, 14 de março de 2013


As diferentes abordagens do multiculturalismo

O que é multiculturalismo?

O multiculturalismo é o reconhecimento das diferenças, da individualidade de cada um. Daí então surge a confusão: se o discurso é pela igualdade de direitos, falar em diferenças parece uma contradição. Mas não é bem assim. A igualdade de que se fala é igualdade perante a lei, é igualdade relativa aos direitos e deveres. As diferenças às quais o multiculturalismo se refere são diferença de valores, de costumes etc, posto que se trata de indivíduos de raças diferentes entre si.
O multiculturalismo é um princípio que defende a necessidade de se ir além das atitudes de tolerância entre diferentes culturas num mesmo território ou nação. Para os defensores do multiculturalismo, as diferenças entre culturas que habitam um mesmo estado devem ser respeitadas e encorajadas, para que possa haver uma coexistência harmoniosa. A ideia de multiculturalismo está associada a outros fenômenos contemporâneos como o pós-modernismo e o relativismo cultural. Não há, no entanto, um consenso entre os pensadores desse tema sobre a sua definição. São basicamente dois os conceitos mais utilizados de multiculturalismo: um diz que todas as culturas dentro de uma mesma nação têm o direito de existir mesmo que não haja um fio condutor que as una; outro conceito define multiculturalismo como uma diversidade cultural coexistindo dentro de uma nação em que há um elo cultural comum que mantenha a sociedade unida.

Abordagem assimilacionista
A abordagem assimilacionista parte da afirmação de que vivemos numa sociedade multicultural, no sentido descritivo. Nessa sociedade multicultural todos não têm as mesmas oportunidades; não existe igualdade de oportunidade. Uma política assimilacionista favorece que todos se integrem na sociedade e sejam incorporados à cultura hegemônica. No entanto, não se meche na matriz da sociedade, procura-se assimilar os grupos marginalizados e descriminados aos valores, mentalidades, conhecimento socialmente valorizados pela cultura hegemônica. No caso da educação, promove-se uma política de universalização da escolarização, em que todos são chamados a participar do sistema escolar, mas sem que se coloque em questão o caráter monocultural presente na sua dinâmica. Trata-se de simplesmente de incluir os que não tinham acesso a esses bens e a essas instituições tal como elas são.

Abordagem diferencialista


O multiculturalismo diferencialista parte da afirmação de que quando se enfatiza a assimilação termina-se por negar a diferença ou por silenciá-la, para tanto, essa abordagem propõe colocar a ênfase no reconhecimento da diferença e, para garantir a expressão das diferentes identidades culturais presentes num determinado contexto, é necessário garantir espaços em que essas se possam expressar.
         É então enfatizado acesso a direito sociais e econômicos e, ao mesmo tempo é privilegiada a formação de comunidades culturais homogêneas como suas próprias organizações – bairros, escolas, igrejas, clubes, associações etc. Na pratica, em muitas sociedades atuais terminou-se por favorecer a criação de verdadeiros apartheids socioculturais.


Abordagem intercultural

A interculturalidade que Candau (2008) defende tem por objetivo promover uma educação para o reconhecimento do outro, para o diálogo entre diferentes grupos sociais e culturais. Uma educação para a negociação cultural, que enfrenta os conflitos provocados pela assimetria de poder entre os diferentes grupos sócio-culturais nas nossas sociedades e é capaz de favorecer a construção de um projeto comum, pelo qual as diferenças seja dialeticamente integradas.
A perspectiva prescritiva entende o multiculturalismo como uma maneira de atuar, de intervir, de transformar a dinâmica social, ou seja, trata-se de um projeto, de um modo de se trabalhar as relações culturais numa determinada sociedade e de conceber políticas públicas nessa direção. Assim, uma sociedade multicultural se constrói a partir de determinados parâmetros.
“O interculturalismo funcional responde e é parte dos interesses e necessidades das instituições sociais; a interculturalidade crítica, pelo contrário, é uma construção de e a partir das pessoas que sofreram uma histórica submissão e subalternização” (WALSH, 2009, p. 22).
A interculturalidade crítica não se limita às esferas políticas, sociais e culturais, mas se preocupa também com a exclusão, negação e subalternização ontológica e epistêmico-cognitivo dos grupos e sujeitos racializados; com as práticas que privilegiam alguns outros, naturalizando a diferença e ocultando as desigualdades que se estruturam e se mantêm em seu interior.
Para Walsh (2009), entender a interculturalidade como processo e projeto dirigido à construção de modos outros do poder, saber, ser e viver permite ir muito além dos pressupostos e manifestações atuais da educação intercultural bilíngüe ou da filosofia intercultural.