As diferentes abordagens do
multiculturalismo
O que é multiculturalismo?
O multiculturalismo é o reconhecimento das
diferenças, da individualidade de cada um. Daí então surge a confusão: se o
discurso é pela igualdade de direitos, falar em diferenças parece uma
contradição. Mas não é bem assim. A igualdade de que se fala é igualdade
perante a lei, é igualdade relativa aos direitos e deveres. As diferenças às
quais o multiculturalismo se refere são diferença de valores, de costumes etc,
posto que se trata de indivíduos de raças diferentes entre si.
O multiculturalismo é um princípio que defende a
necessidade de se ir além das atitudes de tolerância entre diferentes culturas
num mesmo território ou nação. Para os defensores do multiculturalismo, as diferenças
entre culturas que habitam um mesmo estado devem ser respeitadas e encorajadas,
para que possa haver uma coexistência harmoniosa. A ideia de multiculturalismo
está associada a outros fenômenos contemporâneos como o pós-modernismo e o
relativismo cultural. Não há, no entanto, um consenso entre os pensadores desse
tema sobre a sua definição. São basicamente dois os conceitos mais utilizados
de multiculturalismo: um diz que todas as culturas dentro de uma mesma nação
têm o direito de existir mesmo que não haja um fio condutor que as una; outro
conceito define multiculturalismo como uma diversidade cultural coexistindo
dentro de uma nação em que há um elo cultural comum que mantenha a sociedade unida.
Abordagem assimilacionista
A abordagem assimilacionista parte da afirmação
de que vivemos numa sociedade multicultural, no sentido descritivo. Nessa
sociedade multicultural todos não têm as mesmas oportunidades; não existe
igualdade de oportunidade. Uma política assimilacionista favorece que todos se
integrem na sociedade e sejam incorporados à cultura hegemônica. No entanto,
não se meche na matriz da sociedade, procura-se assimilar os grupos
marginalizados e descriminados aos valores, mentalidades, conhecimento
socialmente valorizados pela cultura hegemônica. No caso da educação,
promove-se uma política de universalização da escolarização, em que todos são
chamados a participar do sistema escolar, mas sem que se coloque em questão o
caráter monocultural presente na sua dinâmica. Trata-se de simplesmente de
incluir os que não tinham acesso a esses bens e a essas instituições tal como
elas são.
Abordagem
diferencialista
O multiculturalismo diferencialista parte da
afirmação de que quando se enfatiza a assimilação termina-se por negar a
diferença ou por silenciá-la, para tanto, essa abordagem propõe colocar a
ênfase no reconhecimento da diferença e, para garantir a expressão das
diferentes identidades culturais presentes num determinado contexto, é
necessário garantir espaços em que essas se possam expressar.
É
então enfatizado acesso a direito sociais e econômicos e, ao mesmo tempo é
privilegiada a formação de comunidades culturais homogêneas como suas próprias
organizações – bairros, escolas, igrejas, clubes, associações etc. Na pratica,
em muitas sociedades atuais terminou-se por favorecer a criação de verdadeiros
apartheids socioculturais.
Abordagem intercultural
A interculturalidade que Candau (2008) defende
tem por objetivo promover uma educação para o reconhecimento do outro, para o
diálogo entre diferentes grupos sociais e culturais. Uma educação para a
negociação cultural, que enfrenta os conflitos provocados pela assimetria de
poder entre os diferentes grupos sócio-culturais nas nossas sociedades e é
capaz de favorecer a construção de um projeto comum, pelo qual as diferenças
seja dialeticamente integradas.
A perspectiva prescritiva entende o
multiculturalismo como uma maneira de atuar, de intervir, de transformar a
dinâmica social, ou seja, trata-se de um projeto, de um modo de se trabalhar as
relações culturais numa determinada sociedade e de conceber políticas públicas
nessa direção. Assim, uma sociedade multicultural se constrói a partir de
determinados parâmetros.
“O interculturalismo funcional responde e é
parte dos interesses e necessidades das instituições sociais; a
interculturalidade crítica, pelo contrário, é uma construção de e a partir das
pessoas que sofreram uma histórica submissão e subalternização” (WALSH, 2009,
p. 22).
A interculturalidade crítica não se limita às
esferas políticas, sociais e culturais, mas se preocupa também com a exclusão,
negação e subalternização ontológica e epistêmico-cognitivo dos grupos e
sujeitos racializados; com as práticas que privilegiam alguns outros,
naturalizando a diferença e ocultando as desigualdades que se estruturam e se
mantêm em seu interior.
Para Walsh (2009), entender a interculturalidade
como processo e projeto dirigido à construção de modos outros do poder, saber,
ser e viver permite ir muito além dos pressupostos e manifestações atuais da
educação intercultural bilíngüe ou da filosofia intercultural.